quinta-feira, 13 de março de 2014

Conteúdo - Professor Lauri - 3ºs anos

By HOMAGO   Postado em  05:38   Nenhum comentário


1. Religião e Humanidade


A religião é um fenômeno social, um conjunto de símbolos e rituais realizados coletivamente. Neste sentido, ela se relaciona intrinsecamente com a sociedade, sendo nela praticada das mais diversas maneiras. É o elemento central da experiência humana e existe em todas as sociedades conhecidas. Traços de rituais e símbolos religiosos já se evidenciam desde o tempo das sociedades antigas das quais temos conhecimento apenas através de vestígios arqueológicos. A religião influencia de diversas maneiras a forma pela qual vemos o mundo e reagimos ao meio que nos rodeia. Gertz afirma que a religião é sociologicamente interessante não porque descreve a ordem social, mas porque a modela.
Junito Brandão, em seu livro Mitologia grega, define a religião como um conjunto de atitudes e atos por meio dos quais o homem se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Do verbo latino religare, religião significa o ato ou ação de ligar. Por isso, podemos afirmar que religião é a instituição social que faz com o ser humano se sinta ligado ou relacionado com algo ou alguém que o transcende. E isto faz parte da essência humana, em que a transcendência consiste nesta dimensão de buscar ultrapassar a materialidade corpórea e dar significado ao seu existir fora da dimensão material. O ser humano é formado de quatro dimensões fundamentais que se interrelacionam e se interligam: a imanência que o faz perceber como elemento integrante do mundo a sua volta, a transcendência que faz buscar algo superior ao seu eu, a identidade que o faz se perceber como sujeito e a alteridade que faz sua relação com os outros eus.
Se a linguagem é a característica fundamental da espécie humana, a linguagem pictórica encontrada em cavernas e paredões rochosos (pinturas rupestres) são os sinais mais evidentes de que a religião foi a forma encontrada por primeiro dos seres humanos emitirem sinais de suas manifestações religiosas, pois estas pinturas são claramente uma simbologia religiosa, ainda que mítica e misteriosa ou na tentativa de pressionar o meio em relação ao contexto vivenciada por estas sociedades. “O humano, em sua capacidade cognitiva e simbólica, seria impensável sem a forma como a religião constituiu a própria humanidade. Ser humano é ser religioso em termos históricos. Neste primeiro conceito, a religião emerge, portanto, como a experiência humana mais antiga, confundindo-se com o próprio tornar-se humano. A religião é a experiência fundamental que constitui a rede de significados mais antiga sobre a condição humana” (MAGALHÃES/PORTELLA, 2011, p. 26).
Uma coisa é negar a importância de uma instituição religiosa como igreja, mas não podemos negar a importância histórica e sociológica da religião enquanto dimensão do ser humano.
Enquanto relacionamento com o sobrenatural ou com o transcendente, podemos classificar as religiões como:
- Animista: crença na presença sobrenatural em um ser inanimado, bem como a presença de uma alma em todos os seres, inclusive em astros, animais, podendo muitas vezes confundir-se com animatismo e/ou fetichismo, que consiste na presença do sobrenatural em todas as coisas.
- Politeísmo: crença em vários deuses como os gregos, egípcios, romanos e outros povos da antiguidade ou também como muitas religiões orientais.
-Monoteísmo: crença em um único deus, como no caso do judaísmo, do cristianismo e islamismo.
- Religião sem deus: acredita na existência de forças cósmicas, como no caso do budismo.
As religiões são diferentes, mas têm pontos em comum, sendo que o mais comum entre todas elas é que elas implicam um conjunto de símbolos e rituais que são realizados coletivamente, sendo que esta coletividade é o que difere, segundo Giddens, a religião da magia. Segundo ele, magia corresponde a uma tentativa individual de influenciar os acontecimentos por meio do uso de poções, cânticos ou práticas rituais; e religião como um conjunto de crenças e práticas rituais às quais os membros de uma comunidade aderem , e que envolvem símbolos ligados à reverência e à admiração.
Para Durkheim, o aspecto coletivo das cerimônias religiosas é um fator que não só diferencia a religião da magia, mas mantém acesa a chama da fé, e segundo ele, as crenças permanecem se partilhadas, pois assim elas nascem e são adquiridas. Para ele, aqueles que verdadeiramente têm fé saem do isolamento e se aproximam dos outros para convencê-los, e a força de suas convicções mantém sua fé, pois sozinha ela se enfraqueceria.
Por constituir um fenômeno socialmente condicionado, a religião pode ser considerada historicamente transitória, no sentido de que ela sofreu e sofre as influências e transformações do tempo e lugar na sociedade em se insere, mesmo se tratando de uma mesma religião, pois a sua prática se configura de uma forma coletiva, mas também com as influências da sociedade a qual está presente.
A própria vida religiosa é quase, universalmente, uma prática social, em que a solidariedade mística tem um papel central, detendo grande diversidade de símbolos para se exteriorizar e desenvolver. Por exemplo, a constituição de comunidades humanas geograficamente identificáveis que são ao mesmo tempo comunidades espirituais; as cerimônias que apelam à participação dos assistentes, como as oferendas, comunhões físicas; outras cerimônias como os ritos de iniciação, as cerimônias do casamento, os ritos fúnebres, etc. Se a religião é dotada de símbolos diversos, é porque faz referência a um universo invisível, inacessível diretamente, devendo, portanto seguir a vida simbólica para manterem o homem em contacto com esse universo. Ora, a sociedade apresenta as mesmas características: transcende cada pessoa, requer a solidariedade de comunidades vastas, complexas ou mesmo dificilmente perceptíveis, obriga a relação entre grupos, coletividade e massas, etc. A sociedade e a sua complexa organização, não poderiam existir e perpetuar-se, tal como a religião, sem o contributo multiforme do simbolismo, tanto pela participação ou identificação que ele favorece como pela comunicação de que é instrumento.



2. As diferentes religiões do mundo atual


O mundo atual é caracterizado por um crescente número de igrejas e seitas, cabendo aqui, fazer a diferenciação entre seita, igreja e religião.
- Religião como sendo um conjunto de doutrinas, crenças e práticas religiosas caracterizada pelo universalismo, pela fé em função de uma pregação mais baseada em princípios doutrinários, geralmente provenientes de uma iluminação ou revelação, como por exemplo, o judaísmo, o budismo, o cristianismo, etc.
- Igreja: é a institucionalização da religião a partir da proposição de um conjunto de regras e valores morais e éticos, baseados em práticas rituais e litúrgicas.
- Seitas: grupo formado a partir da divisão de uma igreja ou religião por princípios doutrinários ou conflitos pessoais.
A religião mais antiga é o hinduísmo com origem na Índia, há cerca de 6.000 anos. É uma religião politeísta, têm variações de cultos, práticas religiosas. Aceitam a doutrina da re-encarnação (eterno processo de nascimento, morte e renascimento). Dá base ao sistema de castas da Índia ao apresentar que as pessoas nascem numa determinada posição social por causa da natureza de suas atividades em vida anterior.
Budismo: religião criada a partir do príncipe Sidharta Gautama, rejeita os rituais hindus e o sistema de castas. Crê no processo da re-encarnação como uma purificação, mas os seres humanos podem escapar deste processo e do sofrimento por meio da renúncia ao desejo. No Brasil, o budismo foi introduzido por imigrantes japoneses.
Hoje, o mundo ocidental é marcado pela presença de três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, religiões que nasceram da experiência religiosa de um povo que teve sua origem a partir de Abraão, considerado o “pai da fé” destes povos.
Dentro do que se define como religião pode-se encontrar muitas crenças e filosofias diferentes. As diversas religiões do mundo são de fato muito diferentes entre si. Porém ainda assim é possível estabelecer uma característica em comum entre todas elas. É fato que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades, deuses e demônios. As religiões costumam também possuir relatos sobre a origem do Universo, da Terra e do Homem, e o que acontece após a morte. A maior parte crê na vida após a morte.
Algumas religiões não consideram deidades, e podem ser consideradas como ateístas (apesar do ateísmo não ser uma religião, ele pode ser uma característica de uma religião). É o caso do budismo, do confucionismo e do taoísmo. Recentemente surgiram movimentos especificamente voltados para uma prática religiosa (ou similar) da parte de deístas, agnósticos e ateus - como exemplo podem ser citados o Humanismo Laico e o Unitário-Universalismo. Outros criaram sistemas filosóficos alternativos como Auguste Comte, fundador da Religião da Humanidade.
As religiões que afirmam a existência de deuses podem ser classificadas em dois tipos: monoteísta ou politeísta. As religiões monoteístas (monoteísmo) admitem somente a existência de um único deus, um ser supremo. As religiões politeístas (politeísmo) admitem a existência de mais de um deus.
Atualmente, as religiões monoteístas são dominantes no mundo: judaísmo, cristianismo e Islão juntos agregam mais da metade dos seres humanos e quase a totalidade do mundo ocidental.
A distribuição atual das religiões não corresponde às suas origens, já que algumas perderam força em suas regiões nativas e ganharam participação em outras partes do planeta, um exemplo básico é o cristianismo, que é minoritário no Oriente Médio (onde surgiu) e majoritário em todo o Ocidente e na Oceania (para onde migrou). Há ainda o caso das religiões greco-romanas que dominaram a Europa por séculos mas hoje são religiões mortas, provavelmente sem nenhum seguidor vivo em todo o planeta.
Desde os finais do século XIX, e em particular desde a segunda metade do século XX, o papel da religião, bem como seu número de aderentes, se tem alterado profundamente. Alguns países cuja tradição religiosa esteve historicamente ligada ao cristianismo, em concreto os países da Europa, experimentaram um significativo declínio da religião. Este declínio manifestou-se na diminuição do número de pessoas que frequenta serviços religiosos ou do número de pessoas que desejam abraçar uma vida monástica ou ligada ao sacerdócio. Em contraste, nos Estados Unidos, na América Latina e na África subsaariana, o cristianismo cresce significativamente; para alguns estudiosos estes locais serão num futuro próximo os novos centros desta religião. O islão é atualmente a religião que mais cresce em número de adeptos, que não se circunscrevem ao mundo árabe, mas também ao sudeste asiático, e a comunidades na Europa e no continente americano. O hinduísmo, o budismo e o xintoísmo tem a sua grande área de influência no Extremo Oriente, embora as duas primeiras tradições influenciem cada vez mais a espiritualidade dos habitantes do mundo ocidental. A Índia, onde cerca de 80% da população é hindu, é um dos países mais religiosos do mundo, ficando em segundo lugar após os Estados Unidos. As explicações para o crescimento das religiões nestas regiões incluem a desilusão com as grandes ideologias do século XIX e XX, como o nacionalismo e o socialismo.
Por outro lado, o mundo ocidental é marcado por práticas religiosas sincréticas, ligadas a uma "religião individual" de cada um faz para si e ao surgimento dos chamados "novos movimentos religiosos". Embora nem todos esses movimentos sejam assim tão recentes, o termo é usado para se referir a movimentos neocristãos (Movimento de Jesus), judaico-cristãos (Judeus por Jesus), movimentos de inspiração oriental (Movimento Hare Krishna) e a grupos que apelam ao desenvolvimento do potencial humano através por exemplo de técnicas de meditação (Meditação Transcendental).
Também presente na Europa e nos Estados Unidos da América é aquilo que os investigadores designam como uma "nebulosa místico-esotérica", que apela a práticas como o xamanismo, o tarot, a astrologia, os mistérios e cuja atividades giram em torno da organização de conferências, estágios, revistas e livros. Algumas das características desta nebulosa místico-esotérica são as centralidades do indivíduo que deve percorrer um caminho pessoal de aperfeiçoamento através da utilização de práticas como o ioga, a meditação, a idéia de que todas as religiões podem convergir , o desejo de paz mundial e do surgimento de uma nova era marcada por um nível superior de consciência.


3. O caráter sociológico das religiões


Em diferentes épocas podemos perceber as diferentes formas de se analisar o fenômeno religioso presente em nossas sociedades. Porém, o que não podemos negar é a presença deste fenômeno social que se faz presente na humanidade desde sua origem.
Os estudos sociológicos mostram que diferentes pensadores se propuseram a estudar o fenômeno religioso. Por isso, temos diferentes enfoques, entre os quais podemos descrever desde a negação da importância social da religião até o fato de que a religião sendo vista como fator de agregação e organização da sociedade humana.
O medo do desconhecido e a necessidade de dar sentido ao mundo que a cerca levou o homem a fundar diversos sistemas de Crenças, Cerimônias e Cultos - muitas vezes centrados na figura de um ente supremo - que o ajudam a compreender o significado último de sua própria natureza. Mitos, Superstições ou Ritos Mágicos que as sociedades primitivas teceram em torno de uma existência sobrenatural, inatingível pela razão, equivaleram à crença num ser superior e ao desejo de comunhão com ele, nas primeiras formas de religião. Religião (do latim religio, cognato de religare, "ligar", "apertar", "atar", com referência a laços que unam o homem à divindade) é como o conjunto de relações teóricas e práticas estabelecidas entre os homens e uma potência superior, à qual se rende culto, individual ou coletivo, por seu caráter divino e sagrado.
Assim, religião constitui um corpo organizado de crenças que ultrapassam a realidade da ordem natural e que tem por objeto o sagrado ou sobrenatural, sobre o qual elabora sentimentos, pensamentos e ações. Essa definição abrange tanto as religiões dos povos ditos primitivos quanto às formas mais complexas de organização dos vários sistemas religiosos, embora variem muito os conceitos sobre o conteúdo e a natureza da experiência religiosa. Apesar dessa variedade e da universalidade do fenômeno no tempo e no espaço, as religiões têm como característica comum o reconhecimento do sagrado e a dependência do homem de poderes supramundanos. A observância e a experiência religiosas têm por objetivo prestar tributos e estabelecer formas de submissão a esses poderes, nos quais está implícita a idéia da existência de ser ou seres superiores que criaram e controlam o cosmos e a vida humana. À medida que o homem passou a organizar sua existência numa base racional, a multiplicidade de poderes divinos e sobre-humanos do primitivo animismo não conseguiu mais satisfazer a necessidade de estabelecer uma relação coerente com as múltiplas forças espirituais que povoavam o universo. Surgiram assim as religiões politeístas, panteístas, deístas e monoteístas, expressões das condições sociais e culturais de cada época e das características dos povos em que surgiram. Toda religião pressupõe algumas crenças básicas, como a sobrevivência depois da morte, mundo sobrenatural etc., ao menos como fundamento dos ritos que pratica. Essas crenças podem ser de tipo Mitológico - relatos simbólicos sobre a origem dos deuses, do mundo ou do próprio povo; ou Dogmático - conceitos transmitidos por revelação da divindade, que dá origem à religião revelada e que são recolhidos nas escrituras sagradas em termos simbólicos, mas também conceituais.
Podemos dizer que a religião surgiu com o próprio ser humano e se constitui em um fator de humanização permanente pela sua capacidade de simbolização. Da mesma forma que a religião passou a grande fonte de sentido da vida humana. Portanto, a religião surgiu como uma forma de resposta a todas as perguntas que o ser humano fazia sobre si mesmo, sobre o mundo que o cerca. Como não encontrava uma resposta concreta para esses questionamentos, percebeu a existência de algo além da sua própria existência e do mundo que o cercava: nasciam assim as diferentes formas de religião, pois a dimensão da religiosidade já faz parte do ser humano, na sua ânsia de superar os seus limites.

Weber e a Religião

Weber concentrou a sua atenção nas religiões ditas mundiais, aquelas que atraíram um grande número de crentes e que afetará, em grande medida, o curso global da história. Teve em atenção a relação entre a religião e as mudanças sociais, acreditava que os movimentos inspirados na religião podiam produzir grandes transformações sociais, dando o exemplo do Protestantismo. Para Weber, as concepções religiosas eram cruciais e originárias das sociedades humanas, pois o homem, como tal, sempre esteve à procura de sentido e de significado para a sua existência; não simplesmente de ajustamento emocional, mas de segurança cognitiva ao enfrentar problemas de sofrimento e morte. Weber mostra que as religiões, ao criar respostas a tais problemas – respostas que se tornam parte da cultura estabelecida e das estruturas institucionais de uma sociedade influem de maneira mais íntima nas atitudes práticas dos homens com relação às várias atividades da vida diária. Com isto, Weber considerava que, ao problema humano do sentido e significação existencial, a religião, de maneira eficaz, oferecia uma resposta final. Portanto, segundo a teoria de Weber, religião é uma das fontes causadoras de mudanças sociais. Para ele, o processo de racionalização religiosa ou de “desencantamento do mundo” culminou no calvinismo do século XVII e em muitos outros movimentos, chamados por ele de “seitas. A ligação que Weber faz do desenvolvimento do capitalismo com o calvinismo é que se o capitalismo visa o lucro pelo trabalho e seguinte de regras, o calvinismo se apresenta como uma religião que se fundamenta na execução prática de regras morais e sociais bem rígidas.


Durkheim é um autor que estudou a religião em sociedades pequenas, considerando a religião como uma “coisa social”. Para o autor, na questão religiosa há uma preocupação básica que é a diferença entre sagrado e profano. Durkheim é bem explícito ao afirmar que: “o sagrado e o profano foram sempre e por toda a parte concebidos pelo espírito humano como gêneros separados, como dois mundos entre os quais nada há em comum (…) uma vez que a noção de sagrado é no pensamento dos homens, sempre e por toda a parte separada da noção do profano (…) mas o aspecto característico do fenômeno religioso é o fato de que ele pressupõe uma divisão e bipartida do universo conhecido e conhecível em dois gêneros que compreendem tudo o que existe, mas que se excluem radicalmente. As coisas sagradas são aquelas que os interditos protegem e isolam; as coisas profanas, aquelas às quais esses interditos se aplicam e que devem permanecer à distancia das primeiras.” Ou seja, para Durkheim, há uma natural superioridade do sagrado em relação em profano.

A religião em Marx

Partindo do conceito de alienação como algo que faz o ser humano esquecer a realidade em que vive, Marx afirmava que os homens que não compreendem inteiramente sua própria história acabam por criar deuses e forças distintas de si mesmos, para atribuir às ações dos deuses valores e normas que, na realidade, são criações sociais. A afirmar a religião como “ópio do povo”, considerava que a religião desvirtuaria o homem de seu próprio caminho, fazendo esquecer as injustiças deste mundo, sugerindo atitudes de não resistência à opressão e conformando o ser humano a uma realidade de injustiças. Por outro lado, Marx também pensou a religião como uma enciclopédia popular, em que a religão aparece como uma forma de conhecimento e de explicação da realidade pelas classes populares para dar sentido às coisas, às relações sociais e políticas, como forma de buscar forças para a luta contra a tirania.


O pensamento religioso de Pierre Bourdieu

A Sociologia da religião para Bourdieu é a a Sociologia do campo religioso, enquanto estrutura em que os indivíduos ocupam posições e mantem relações diferenciadas entre estas posições.É a distribuição do capital religioso que determina a posição de cada agente religioso e as suas disposições.
Outro conceito importante trabalho por Bourdieu é o simbolismo religioso, que segundo ele torna-se instrumento de intregração nas relações sociais, mas também como instrumento de dominação da classe dominante. As relações de comunicação são, para Bourdieu, relações de poder determinadas pelo poder material ou simbólico acumulado pelos agentes envolvidos nas relações. Os “sistemas simbólicos” atuam como instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e conhecimento e asseguram a dominação de uma classe sobre outra a partir de instrumentos de imposição da legitimação, “domesticando” os dominados.
Bourdieu propõe, na análise sociológica da religião, a figura do profeta como aquele que rompe coma estrutura social vigente. Portanto, aquele que em situações de crise, aparece para denunciar uma realidade, enquanto o sacerdote é aquele que serve para manipular o sagrado em favor das classes dominantes. Ser profeta ou sacerdote é uma questão de posição que ocupa nas relações estruturais da sociedade.
A radição sociológica da religião implica que a recepção dos bens religiosos, das mensagens religiosas, varie segundo o habitus dos receptores. Há mais do que interpretação dos bens, reinterpretação. Habitus para Bourdieu é a capacidade de uma determinada estrutura social ser incorporada pelos agentes por meio de disposições para sentir, pensar e agir. Assim, uma religião consegue se expandir ou não conforme for incorporada pela cultura de um determinado povo.

5. Religião e religiosidade popular


As grandes religiões são quase sempre percorridas  por duas correntes religiosas nem conciliáveis: a "oficial" e a "popular".
  A "oficial está ligada à elite dos sacerdotes. Caracteriza-se por uma elevada racionalização das crenças e ritos religiosos, transformando-as num corpo doutrinal muito intelectualizado, depurado de outras tradições religiosas. Apresenta-se quase sempre numa linguagem abstrata e universal. O divino apresenta-se enquadrado numa estrutura teórica muito complexa. Instituição que apresenta um conjunto de doutrinas oficialmente apresentadas e teologicamente defendidas.
A corrente "popular" está ligada à forma como a maioria das pessoas encara a religião: a emoção sobrepõe-se à razão, O fruto do sincretismo religioso (mistura de diferentes matrizes religiosas). O desvio da norma oficial é por vezes total. Caracteriza-se por uma visão espontânea, emotiva, sincrética e concreta da religião. Esta religiosidade popular é herdeira de tradições ancestrais, podemos encontrar nas mesmas crenças e ritos de antigas religiões há muito desaparecidas. O crente não sente qualquer incoerência em acreditar, por exemplo, no cristianismo e em praticar também rituais de origem pagã. Na religiosidade popular do Brasil podemos encontrar inúmeros exemplos deste sincretismo milenar. 
  Estas manifestações populares de religiosidade atribuem uma grande importância a tudo o que pode ser visto, tocado ou sentido diretamente. O crente procura sentir de forma muito viva o contato com o divino e obter um testemunho concreto deste contato. É por esta razão que nela se apela a tudo o que é de natureza física, como os gestos e se recorre a práticas mágicas, feitiços, exorcismos, sacrifícios, peregrinações, etc. que envolvem de forma marcante quer os crentes quer o sacerdote; usa e abusa-se de objetos de culto como mezinhas, imagens de santos, virgens, estátuas, medalhas, etc., para se obter isto ou aquilo, ou simplesmente para se testemunhar que se esteve neste ou naquele local sagrado. 
  As relações com o divino são quase sempre, neste caso, relações de troca: O crente promete fazer uma oferta (promessa, voto) caso o divino lhe dê o lhe pede. Uma vez recebida a dádiva, o crente vê-se obrigado a efetuar o pagamento.  


As diferentes matrizes religiosas brasileiras

a) Matriz cristã ocidental: presente a partir dos colonizadores europeus, o catolicismo se tornou a principal corrente religiosa do Brasil, durante todo o período colonial e imperial. Com a proclamação da República e separação entre Estado e Igreja, outros credos cristãos passaram a fazer parte da religiosidade do povo brasileiro de forma livre e espontânea.
b) Matriz afro: com a vinda dos africanos como escravos para o Brasil, estes trouxeram consigo suas manifestações religiosas que foram proibidas pela Igreja oficial, mas nem por isso desapareceram. Houve sim, um sincretismo entre elementos afros com elementos católicos, criando uma religiosidade tipicamente brasileira.
c) Matriz ameríndia: os povos nativos do solo brasileiro também contribuíram para a formação da cultura religiosa brasileira com suas crenças marcadas crenças a elementos da natureza, aos antepassados, uso de ervas e plantas medicinais, pajelanças e xamanismo.
d) Orientais: a vida de elementos do continente asiático contribuiu para o enriquecimento da cultura religiosa brasileira, com práticas religiosas e filosóficas em que aparecem elementos unindo fé e razão, práticas espiritualistas, além da busca de uma religiosidade fundamentada na busca do equilíbrio entre corpo e mente e do indivíduo com a natureza.
Hoje, de modo especial, a cultura religiosa brasileira é caracterizada por um forte sincretismo e, também, pelo crescimento de seitas e igrejas ligadas ao pentecostalismo (igrejas dissidentes das tradições históricas provenientes dos Estados Unidos) e também um crescimento muito grande do islamismo.

Elementos da religiosidade popular

- valores culturais mais periféricos sem muita integração com o oficial, com isso ganhando uma maior liberdade de ação. Assim, estão mais sujeitos à influência de crenças e valores de outras correntes religiosas.
- caráter mais individual das práticas religiosas e dos valores e crenças.
- Necessidade de uma maior simbologia e algo mais prático e concreto: devoção aos santos, romarias, imagens, etc.


HISTÓRICO DA ESCOLA

1964 - Por proposta do Sr. Horácio Hipólito da Silva, Inspetor Escolar, foi transferida a Escola do Morro da Boa Vista para a localidade da Vila Nova Esperança, hoje Ilha da Figueira, no terreno cedido gentilmente pelo Sr. Alfredo Friedel, que doou em recompensa de sua designação e indicação como servente da escola.
VER HISTÓRICO DA ESCOLA: HOMAGO

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